Pois é, vimos recentemente Kepler-22b, depois Kepler-20e e Kepler-20f. Isso é só a pontinha do iceberg do que vem aí pela frente em termos de planetas extrassolares parecidos com a Terra.
Além do telescópio espacial Kepler, que coletou dados para essas últimas descobertas fantásticas, o esforço pela identificação de planetas habitáveis (leia-se: habitáveis por vida como conhecemos aqui na Terra), continua por diversas outras frentes. E há dois resultados recentes muito interessantes obtidos por pessoas trabalhando com dados coletados aqui da Terra. Um dos resultados foi obtido utilizando um método relativístico bastante interessante.
A maioria dos planetas extrassolares descobertos até agora vieram à tona através de dois métodos principais. Um que consiste em observar o balanço da estrela provocado por um ou mais planeta orbitando ao seu redor, e outro que consiste em medir uma diminuição do brilho da estral causado por um planeta que passou na frente, bem a linha de visada. Esse último método é o utilizado pela missão Kepler.
Uma rede de colaboração chamada PLANET (da sigla, em inglês, de Probing Lensing Anomalies Network), utiliza lentes gravitacionais para detectar planetas fora do Sistema Solar.
O efeito das lentes gravitacionais foi previsto pela Relatividade Geral, de Albert Einstein, e se trata da curvatura da luz produzida por uma distorção no espaço. A teoria da Relatividade Geral vê a gravitação de uma forma diferente da teoria Clássica, de Isaac Newton, que aprendemos no colégio.
Segundo Newton, toda massa produz uma força atrativa, a força gravitacional. Essas forças produzidas pelas diversas massas espalhadas pelo Universo mantém o equilíbrio cósmico como observamos. Os movimentos iniciais dos corpos mais a força gravitacional explicam as trajetórias de planetas, estrelas, galáxias, etc. Segundo a Relatividade geral, não há forças. Toda massa distorce o espaço-tempo (espaço e tempo estão fortemente correlacionados na Relatividade Geral, não são coisas separadas). E essa distorção produz as trajetórias de planetas, estrelas, galáxias, etc.
Se a teoria de Einstein estivesse correta, uma de suas consequências seria a lente gravitacional. E, adivinhe só, esse efeito foi observado em 1979, vários anos após a morte do Cientista Alemão. De lá para cá várias lentes gravitacionais foram observadas. Abaixo estão dois registros bastante interessantes:

A maioria das imagens de lentes gravitacionais envolve objetos grande, como galáxias e aglomerados de galáxias. Grandes massas produzem maior distorção no espaço, o que torna o efeito mais perceptível.

Entretanto, como é de se esperar, o avanço das tecnologias de observação do céu nos permite enxergar o Universo cada vez melhor. E pequenas lentes gravitacionais produzidas por uma estrela e um planeta girando ao seu redor já fazem parte das nossas técnicas de detecção de planetas extrassolares.
E os resultados do PLANET nos indicam que deve haver, no mínimo 100 bilhões de planetas aqui na nossa Galáxia. Isso aumenta em muito nossa perspectiva de busca por outros mundos, pois, até o final de 2011, um total de 716 planetas extrassolares haviam sido descobertos. Certamente um número bem maior existe por aí, esperando para serem descobertos por nós.
O artigo que descreve o método de detecção de planetas por lentes gravitacionais foi publicado na revista Nature em 11 de janeiro de 2012. Num outro trabalho, mais recente, publicado no site do ESO (European Southern Observatory) em 28 de março de 2012, outro grupo de pesquisadores nos deu uma conclusão muito interessante sobre a existência de planetas habitáveis.
Usando um método que mede o balanço de um estrela causado por planetas que orbitam ao seu redor (um método que não tem nada a ver com as lentes gravitacionais), o time de pesquisadores propõe que devem existir dezenas de bilhões de planetas rochosos, a maioria com mais massa que a Terra, nas zonas de habitabilidade de suas estrelas. A zona de habitabilidade é uma faixa de distância dentro da qual é possível haver água líquida: nem muito perto, nem muito afastado da estrela.
O trabalho foi feito com estrelas anãs vermelhas, menos massivas que o Sol, e que devem compor cerca de 80% das estrelas da Via Láctea. Dessas, cerca de 40% deve ter uma superterra (planeta com mais massa que a Terra e menos massa que os planetas gigantes gasosos do sistema solar) na zona de habitabilidade.
Bom, a busca por novos planetas habitáveis está seguindo firme, no céu, com oTelescópio Kepler, e aqui no chão com os equipamentos disponíveis.
Um outro estágio será a procura, dentre os planetas na zona de habitabilidade, daqueles que, de fato, mostram traços de vida em sua composição química. E a coisa ficará ainda mais interessante do que está hoje!
Links:
Detecção de Planetas extrassolares através de lentes gravitacionais:
Artigo Original (em inglês): http://www.nature.com/nature/journal/v481/n7380/full/nature10684.html
Projeto PLANET (em inglês): http://planet.iap.fr/
Notícia de divulgação (em inglês): http://earthsky.org/space/milky-way-has-100-billion-planets-astronomers-say/comment-page-1#comment-630611
Dezenas de bilhões de planetas rochosos parecidos com a Terra:
Artigo original (em inglês): http://www.eso.org/public/news/eso1214/
Notícia de divulgação no site G1 (em português): http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/03/lactea-tem-bilhoes-de-planetas-teoricamente-habitaveis-diz-estudo.html