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Companheira de um Magnetar

Quando uma estrela com muita massa morre, ela passa pelo processo de supernova, e o que resta será uma estrela de nêutrons ou um buraco negro. Existem estrelas de nêutrons que  possuem campos magnéticos extremamente fortes e são os mais poderosos ímãs conhecidos na natureza: os magnetars ou estrelas magnéticas.

Existem poucos magnetars conhecidos na Via Láctea, pouco mais de 20 até agora, e um deles está no aglomerado aberto Westerlund 1, localizado a 16 mil anos-luz na constelação do Altar (Ara). O nome pelo qual os astrônomos chamam esse objeto é CXOU J164710.2-455216. O  grande problema com esse magnetar (além do nome) é que ele nasceu da morte de uma estrela com mais de 40 vezes a massa do Sol. Uma estrela com essa massa daria origem a um buraco negro e não a uma estrela de nêutrons. Mas uma solução pode ter surgido num trabalho recente.

Uma das ideias era a de que a estrela que originou o CXOU J16… digo, esse magnetar, fazia parte de um sistema duplo, ou seja, não era uma estrela solitária mas possuía uma companheira. Ambas orbitavam uma em torno da outra e estariam mais próximas entre si do que a Terra está do Sol. Entretanto,até agora, a segunda estrela nunca tinha sido observada.

Uma possibilidade era a de que essa segunda estrela tivesse sido arremessada do aglomerado pela explosão da supernova que originou o magnetar. Recentemente, astrônomos procuraram por uma estrela que poderia ter fugido do aglomerado  Westerlund 1 com alta velocidade e encontraram a Westerlund 1-5.  Além da velocidade peculiar, essa estrela possui características químicas incomuns para estrelas isoladas, o que indica que ela deve ter feito parte de um sistema binário no passado.

Sendo essa estrela a antiga companheira daquela que deu origem ao magnetar, eis o que deve ter acontecido: a estrela com maior massa começou a ficar sem combustível, e material de suas camadas mais externas é gradativamente capturado pela estrela de menor massa. Essa estrela menor será o magnetar. Nesse processo, a velocidade de rotação da estrela que está recebendo material aumenta. Quanto mais massa agregada, maior a velocidade de rotação. A rotação rápida é o ingrediente fundamental da formação dos intensos campos magnéticos dos magnetars.

E justamente a rápida rotação pode ter lançado novamente para o espaço parte da matéria que estava sendo recebida, sendo que uma pequena quantidade voltou para sua estrela original. Isso explicaria alguns traços químicos da Westerlund 1-5  e o fato de termos tido a formação de uma estrela de nêutrons e não de um buraco negro.

A pequena quantidade de magnetars conhecidos não oferece muitas possibilidades de comparação desse modelo com outros objetos observados, o que seria um excelente teste. E, como os magnetars realmente não são muito comuns, um teste satisfatório talvez ainda esteja longe para esse modelo.

Representação de um Magnetar ou uma Estrela Magnética (Crédito: ESO)
Representação de um Magnetar ou uma Estrela Magnética (Crédito: ESO)

 

Leia Mais:

Pres Release do ESO (em inglês): http://www.eso.org/public/news/eso1415/

Por Leandro L S Guedes

Astrônomo, Diretor de Astronomia da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro, Msc., Dr., Astrofísica Extragaláctica, História e Filosofia da Ciência.

2 respostas em “Companheira de um Magnetar”

Que site maravilhoso! Pena eu só ter descoberto ele agora. Parabéns pelo trabalho incrível!

Muito obrigado pelo carinho e incentivo, De Venita! Ainda teremos muita coisa para compartilhar sobre essa fonte infinita que é a Astronomia.

Um abraço carinhoso, e bons céus em sua vida sempre!

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