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Escala do Sistema Solar Observação

Alguns Passos na Dança dos Planetas e Boatos Sobre o Fim do Mundo

Nesses tempos de se falar sobre o fim do mundo em 2012, supostamente previsto pelos Maias, é interessante lembrar que vários outros “fins do mundo” foram associados a alinhamentos ou configurações geométricas especiais produzidas pelos planetas do Sistema Solar.

Os planetas giram ao redor do Sol executando o movimento que chamamos revolução, ou translação, e demoram tempos diferentes para completar uma volta. Nesse balé celeste, os planetas repetidamente se colocam em posições que merecem certo destaque, as oposições, conjunções, quadraturas e elongações.

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Esquema, fora de escala, das oposições e conjunções. Posicionamentos interessantes e absolutamente inofensivos para a Terra!

As oposições acontecem quando temos o alinhamento Sol-Terra-planeta. Esse é um bom momento para observar o astro porque ele estará surgindo no céu logo que anoitece e só irá se pôr no amanhecer, ou seja, estará disponível para observação por toda a noite, e sua superfície voltada para a Terra está totalmente iluminada pelo Sol, tornando-o mais brilhante do que em outras posições.

As oposições só podem acontecer com os planetas externos, ou exteriores, aqueles com órbitas maiores que a da Terra: Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Também apenas com os planetas externos acontecem as quadraturas , quando a linha Sol-Terra faz um ângulo de 90 0 com a linha Terra-planeta. Se isso acontece a oeste do Sol, temos a quadratura ocidental ; se acontece a leste do Sol, temos uma quadratura oriental . Com os planetas internos, aqueles que se localizam entre a Terra e o Sol, ou seja, Mercúrio e Vênus, ocorrem as conjunções , que podem ser conjunção inferior, se tivermos o alinhamento Sol-planeta-Terra, ou conjunção superior , se tivermos o alinhamento planeta-Sol-Terra. Perceba que um planeta externo também entra em conjunção superior, mas nunca em conjunção inferior.

Esquema, fora de escala, de máximas elongações.
Esquema, fora de escala, de máximas elongações.

A linha Terra-Sol nunca fará um ângulo de 90 o com a linha Terra-planeta interior, mas essas linhas podem formar um ângulo máximo. Quando o planeta interior está posicionado em sua órbita de modo a produzir esse ângulo máximo, dizemos que ele está em máxima elongação . Se isso acontece a oeste do Sol, temos uma máxima elongação ocidental, e o planeta pode ser visto um pouco antes do amanhecer. Se acontecer a leste do Sol temos uma máxima elongação oriental , e o planeta pode ser visto logo após o pôr do Sol.

Essas são algumas posições especiais ocupadas pelos planetas do Sistema Solar que constantemente mudam de posição e produzem bonitas configurações e alinhamentos. Essas configurações podem ser interessantes e são sempre inofensivas para a Terra. Apesar disso, eventualmente correm boatos dizendo que certas configurações produzirão efeitos catastróficos que causarão o fim do mundo. A última vez que isso aconteceu em escala considerável foi no ano 2000.

Esquema, fora de escala, das quadraturas.
Esquema, fora de escala, das quadraturas.

Bom, se minha agenda eletrônica está funcionando direitinho, estamos em 2009, o que me leva a crer, com forte convicção, que o mundo não acabou. Ainda teremos muito e muito tempo para apreciar a dança cósmica e silenciosa dos astros, sejam planetas, cometas, asteróides, galáxias ou outros. Sem nos assustarmos com ela.

Uma versão resumida desse texto foi publicada no folder e site da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro em setembro de 2008

Por Leandro L S Guedes

Astrônomo, Diretor de Astronomia da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro, Msc., Dr., Astrofísica Extragaláctica, História e Filosofia da Ciência.

4 respostas em “Alguns Passos na Dança dos Planetas e Boatos Sobre o Fim do Mundo”

Caríssimo Leandro:
O meu comentário segui por e-mail. Agradeço. Antero

Esses temas devem ser tratados de dois modos: “fim do mundo” e “fim da Terra”. O fim do mundo envolve apenas a extinção das formas de vida, enquanto, o fim da Terra é a desintegração do próprio planeta. Os dois eventos que, no específico, podem ser explicados com base na Filosofia e na Ciência, ocorrerão com certeza.

No geral, há uma rara dúvida se, no prazo máximo de 100 anos, será extinta a humanidade porque cessarão as condições de vida para a espécie, porém, há uma certeza absoluta quanto a desintegração do planeta. Isso, no entanto, deverá ocorrer na cifra de bilhões de anos em função da entropia, um processo de esgotamento energético que ocorre no Universo.

Agradeço reportar-se

Antero

Oi, Antero

Gostei da sua reflexão sobre a diferença entre “fim da mundo” e “fim da Terra”. Eu acho que 100 anos é muito pouco para pensarmos em extinção da humanidade! XD Podemos ser mais otimistas que isso, com certeza!!! Vamos acreditar que os atuais alertas sobre a influência humana na natureza nos façam repensar nossa atuação.

Quando à desintegração da Terra, um planeta é literalmente destruído, geralmente, quando a estrela em que orbita passa pelo processo de supernova. Isso não acontcerá com o Sol. Ele se transformará em uma gigante vermelha, quando engolirá a Terra, mas provavelmente não eliminará o planeta. A Terra ficará orbitando dentro do Sol, mas continuará existindo. Depois desse estágio, o material ao redor do núcleo solar será expelido abandonado para o espaço, um processo nada catastrófico se comparado com a explosão de uma supernova.

Assim, acredito que a Terra permaneça… sem vida, mas não desitegrada.

Muito obrigado por suas reflexões sempre pertinentes e enriquecedoras!
E parabéns pelo seu Site!

Forte Abraço.

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