Os amantes da observação do céu normalmente se interessam também em observar passagens de satélites artificiais. Podemos saber com muito boa precisão quando um desses objetos estará visível para observadores em uma determinada localidade, por quanto tempo será possível vê-lo, e também a trajetória que descreverá no céu. A aparência é de um pontinho se deslocando no céu, com um brilho, em geral, comparável ao de uma estrela. Há ainda satélites que exibem flashes, como se piscassem enquanto os observamos.
Satélite artificial é um artefato colocado em órbita pela ação humana. O primeiro foi o Sputnik 1, obra soviética lançada em 4 de outubro de 1957. Esse evento é considerado por muitos o marco inicial da era espacial, e também da chamada corrida espacial, uma disputa histórica entre União Soviética e Estados Unidos.
Os usos a que se prestam os satélites artificiais são muitos: desde telecomunicação a observações astronômicas, passando por monitoramento de ciclones e até mesmo espionagem. Os satélites mais populares hoje em dia são provavelmente o telescópio espacial Hubble e os responsáveis pelo funcionamento do famoso GPS. O telescópio Hubble teve sua fama assegurada pelas belíssimas imagens do cosmo que obteve. Mas é importante que se saiba que não é o único satélite-telescópio que existe. Outros exemplos de telescópios espaciais importantes para a ciência são o Spitzer, que faz observações no infravermelho, e o Chandra, que observa raios X. A vantagem de se colocar um telescópio em órbita é obter imagens livres da interferência da atmosfera.
O Global Positioning System, ou GPS, é um sistema de 24 satélites, em órbitas de aproximadamente 20200km de altitude, que enviam sinais de microondas para receptores em solo, que podem fornecer ao usuário sua posição (latitude e longitude) em qualquer lugar na Terra com um erro de cerca de 15 metros.
O melhor horário para se caçar satélites artificiais no céu é logo após o pôr do Sol. Com o Sol já abaixo do horizonte, mas não muito, temos um céu escuro e a possibilidade de alguns satélites sobre nossas cabeças ainda estarem recebendo a luz solar. Nessas condições, é possível observar o satélite deslocando-se até um ponto de sua trajetória em que não estará mais recebendo lua do Sol. Quando isso acontece, dizemos que o satélite entrou em área de sombra.
Utilize alguns satélites de comunicação e acesse a internet para obter dados sobre satélites artificiais visíveis para você. O site http://www.heavens-above.com, em inglês, fornece listas com os satélites visíveis para uma dada localidade com as respectivas indicações de brilho (em sistema de magnitudes) e mapas do céu indicando trajetória e horários da passagem desses satélites. Em geral, o telescópio espacial Hubble e a Estação Espacial Internacional (ou ISS, sigla de International Space Station) são bons objetos para se observar.
Como muitos outros avanços tecnológicos da nossa era, os satélites artificiais surgiram primeiro na ficção científica. Em 1869, o jornal The Atlantic Monthly iniciou a publicação em forma de série, ao longo de alguns exemplares, do conto The Brick Moon (A Lua de Tijolo), do escritor americano Edward Everett Hale (1822-1909). Hale conta a história da criação de uma esfera de tijolos com 61 metros de diâmetro construída para ser colocada em órbita e prestar auxílio para navegação. Acidentalmente, a esfera é lançada com pessoas a bordo. Com esse conto, Hale não só introduz o conceito de satélite artificial, mas também o de estação espacial, que nada mais é que um satélite capaz de abrigar pessoas. Esse e outros contos de Edward Hale são hoje de domínio público, e podem ser obtidos gratuitamente, no original em inglês, pelo link no site do Projeto Guttenberg: http://www.gutenberg.org/etext/1633. Repare que na introdução dessa coletânea, o autor diz que seu conto começou a ser publicado em 1870, quando na verdade foi em 1869, como pode ser visto no próprio original do periódico nesse link. Se você fizer o download dos contos ou consultar a página original do The Atlantic Monthly, lembre-se de que os dados provavelmente estão passando por satélites artificiais até chegarem a você.
Uma versão resumida desse texto foi publicada no folder e site da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro em junho de 2008