Uma das primeiras coisas que quem vai lidar com difusão científica, ou educação científica (chame como quiser), é: explicar algo a uma criança é muito mais difícil que explicar a um adulto.
Explicar o que sabemos sobre buracos-negros a um adulto é simples, talvez requeira metáforas que liguem a curvatura do espaço-tempo à curvatura da superfície de um colchão com uma bola pesada em cima. Mas você sabe que tem sucesso como educador ou difusor quando consegue fazer uma criança compreender a analogia entre a superfície bidimensional e o espaço tridimensional. Se conseguir colocar o tempo ai dentro, sucesso absoluto. Por isso, explicar algo a uma criança, sem sacrificar a qualidade e a veracidade da explicação, é um desafio muito legal.
Ontem aprendi que explicar algo a uma criança pode ainda ensinar coisas que vão muito além dessa capacidade de fazer analogias com sucesso.
Estive na casa de uma professora da Universidade de Notre Dame, onde houve um jantar parar discutir a interessante tese de um dos alunos prestes a defender. Um dos filhos da professora, por volta dos 8 anos, sentou-se do meu lado e prestou muita atenção às discussões. Eu tenho economizado palavras aqui porque meu inglês falado ainda é bem capenga e carregado de sotaque Brasileiro.

Mas, em um dado momento das discussões, o menino me cutucou e perguntou bem baixinho, no meu ouvido: “o que é um livro ‘manuscrito’? Isso é diferente de um livro impresso?” Eu expliquei para ele também em voz baixa e seu sorrisão e o sinal de OK nos dedos me indicaram que ele compreendeu. Legal! O menino me fez ver que minha capacidade de comunicação verbal em inglês não está mais tão ruim como eu pensava.
Grande parte da minha economia de palavras era devido a minha própria auto-censura que aprendi, com o pequeno filho de uma professora, ser desnecessária.