Respondido porPossibilidades de emprego para astrônomos

Oi Felipe!
 
 
Vou fazer alguns comentários sobre os primeiros parágrafos antes de responder às  perguntas, ok?
 
Em primeiro lugar, é muito legal vc já estar com cerca de 70% do curso completo. Isso mostra que você já passou pela fase inicial que mostra o que realmente é a astronomia, e mostra também que não se trata de olharpara o céu com um telescópio no jardim. Na verdade, agora, com seus 70% do curso é que, talvez, você chegue perto de um telescópio, já com bagagem suficiente para saber o que fazer com os dados que vai obter dele. A fase inicial (cálculoI,II,II e IV, Física I,II,III e IV, Fisexps, Métodos, etc), que dá uma base sobre o trabalho científico com as ciências da natureza, é que faz com que algumas pessoas repensem e decidam se querem mesmo seguir a carreira.
 
Você deve estar sentindo algo muito parecido com o que eu senti também me aproximando do fim curso: o pessoal da engenharia ou da psicologia vai sair daqui com um emprego e eu vou ter que fazer pós obrigatoriamente. Pois é, isso é uma coisa com a qual os cientistas têm que lidar. Na verdade, eu acho melhor encarar o mestrado e o doutorado como um trabalho, o que é bastante próximo da realidade exceto pelos direitos trabalhistas que temos com a carteira assinada.
 
Você pode começar a ganhar seu dinheiro e iniciar a carreira durante a pós-graduação. As bolsas não são altíssimas mas podem ser bem razoáveis para começar. É perfeitamente natural que a gente queira que as coisas aconteçam mais rápido, principalmente no que diz respeito a trabalho, grana e montar a vida, mas o caminho científico realmente exige uma formação que ultrapassa a graduação, em qualquer lugar do mundo. Acho que, talvez, a ideia aqui seja mudar a perspectiva: sua carreira começa na pós e não no primeiro emprego como alguém que seguiu outra área.
 
Existem exceções sim, e vou começar a responder sua primeira pergunta:
 
1) Sim, os planetários que conheço e a Star One não exigem, até o momento, pós graduação. A faixa de salário dos astrônomos do Planetário do Rio, onde eu trabalho, é a mesma dos engenheiros e arquitetos. Acredito que seja semelhante na Star One. Os Planetários o Brasil são públicos ou vinculados a instituições públicas, como universidades, e, por isso, só contratam através de concurso. Existe a possibilidade de vincular a uma dessas instituições através de contratos temporários para projetos, ou, eventualmente, empresas que terceirizam serviços, mas é diferente de ser um funcionário. A Star One é uma empresa privada e não exige concursopara a contratação. Mas exigem currículo, e não tenha dúvidas que um mestrado ou doutorado em mecânica celeste é bastante bem vindo em uma empresa que faz controle de satélites.
 
Mas você não deve, de maneira nenhuma, limitar suas possibilidades aos planetários e à Star One. E, além disso, conheço pessoas que entrarampara algum planetário e pararam. Ou simplesmente pararam, ou se dedicaram à atividades burocráricas, as vezes até para ganhar mais dinheiro. Cara, isso é péssimo! Você nunca será um cientista completo sem uma pós-graduação, portanto, por favor, não siga esse caminho. Mesmo entrando num lugar que não te exija a pós, faça. Tire da cabeça a ideia de não ser um Mestre ou PhD.
 
2) Os concursos não acontecem apenas quando alguém se aposenta, podem acontecer também no caso de uma expansão das atividades. Me lembro que o Valongo abriu alguns concursos nos últimos anos e houve umpara uma universidade no interior de São Paulo, para uma vaga de divulgação científica. Divulgação é uma área que tem crescido muito no país.
 
Ainda assim os concursos podem, sim, demorar anos. Um recurso que existe é, depois do mestrado e do doutorado, o pós-doutorado, que o mantém até que um concurso apareça. Eu concordo que essa perspectiva de viver com bolsa antes do emprego é meio desanimadora, mas essa é uma questão de mercado acadêmico. Não é um problema do Brasil, é uma situação que está presente em todos os países. Uma diferença aqui é que, por uma questão cultural, outros países contratam pessoas de uma determinada especialidade para realizarem funções semelhantes… por exemplo, as mesmas ferramentas de estatística que você usa paraastrofísica podem ser usadas para análise financeira. Um astrônomo pode ser contratado por um banco, por exemplo, nos Estados Unidos, mas isso não é nada comum por aqui.
 
3) Dê uma olhada aqui http://www.cnpq.br/no-pais e aqui http://www.fapesp.br/3162 . Os valores da Fapesp são bem melhores e o site está mais atualizado, Acredito que os valores do CNPq sejam um pouco maiores que os informados. De uma maneira geral, se quiser pensar nos valores para um astrônomo depois das bolsas, tenha em mente os valores ganhos por um engenheiro, normalmente são bem próximos.
 
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4) Durante a faculdade, obrigatoriamente você vai ter contato com computação científica em algum momento. No mestrado na maioria das áreas, isso é obrigatório. Então não é necessário nenhuma especialização antes. Para a educação também não se necessita obrigatoriamente especialização, mas é necessário um taleto pessoal importante para falar em público, e “traduzir” textos em linguagem científica para uma linguagem inteligível para pessoas das mais diversas formações e origens sociais.
 
 
5) Sem querer falei sobre isso na 2)! A única coisa que se precisa é conhecer as ferramentas teóricas e os processos de trabalho com dados da função. Infelizmente não conheço nenhum astrônomo que trabalhe em alguma instituição financeira. Gostaria que esse tipo de migração fosse mais comum em nosso país.

6) Exatamente, o diploma te permite ser selecionado em qualquer concurso que exija o ensino superior.Tenho um grande amigo, astrônomo competentíssimo, com mestrado, que hoje trabalha na ANAC. E sim, um astrônomo pode fazer concursos para o cargo de físico caso não seja especificada uma determinada pós-graduação. Houve uma grande discussão sobre esse assunto na época em que estava na graduação, exatamente por conta de um concurso para o instituto de Física, e se entendeu que na justiça é fácil mostrar a equivalência dos currículos. Que eu saiba, de lá para cá nunca ouve outro problema.
 
Minha resposta foi maior que seu texto das perguntas, portanto, já viu que não precisa pedir desculpas por escrever muito. Dê uma pensada sobre essas coisas e me escreva mais para continuarmos essa conversa. Provavelmente outras questões irão aparecer.
 
Forte Abraço e Bons Céus
 
Forte Abraço!
Leandro Guedes