O astrônomo Jorge Marcelino me passou hoje o link para uma matéria interessante no site da FAPESP sobre um trabalho que fala do crescimento do número de blogs científicos no mundo. O crescimento é mais evidente nos países de língua inglesa, e a autora do trabalho faz uma associação desse crescimento com a crise no jornalismo mundial. Leia matéria toda aqui no site da FAPESP.
Vou fazer breves comentários sobre alguns trechos.
Segundo a pesquisadora, alguns veículos de comunicação têm optado por cientistas (ou pessoas de outras áreas que nunca tinham usado blogs) para serem seus blogueiros colaboradores.
Existe uma questão antiga na comunicação científica: quem deve fazê-la? O jornalista que se especializa em ciência ou o cientista que se especializa em comunicação? Talvez essa questão seja insipiente e inútil, pois ambos podem fazer o trabalho muito bem (ou muito mal).
Outras especificidades dos blogs de ciência brasileiros, de acordo com Botelho, é que eles são bastante independentes. Em sua maioria, não estão ligados a empresas de comunicação ou instituições.
Isso me parece uma excelente característica dos blogs científicos brasileiros, e mostra que existem muitas pessoas interessadas em ciência e comunicação científica. E não me parece uma característica apenas do Brasil não. O excelente blog astroPT, de Portugal, é um grande exemplo de como existem pessoas que gostam de comentar e divulgar ciência.
O que mais chama a atenção da pesquisadora nos blogs de ciência no Brasil, contudo, é a falta de interatividade.
“Isso pode ser uma característica cultural do Brasil”, avaliou Botelho. “Geralmente as pessoas se sentem mais à vontade para postar seus comentários em redes sociais, como o Facebook e o Twitter, mas não nos blogs”, disse Botelho.
Isso eu verifico constantemente no Astronomia.Blog.Br. Recebo muito mais e-mails e comentários em minha página pessoal do FB que comentários nas postagens. Mesmo a página do site no FB recebe bem menos comentários e opiniões que eu recebo por email. Me parece que isso é uma questão de praticidade: todo mundo se conecta no FB diariamente, portanto, deixar comentários lá é mais fácil que digitar seu nome e e-mail num blog para fazer um comentário. A maior interação acontece pelos botões de “curtir” ou se verifica pelo número de visitas, mas, infelizmente, não existe por aqui a cultura do debate via comentários.
“Os blogs científicos possuem um papel muito importante de experimentação de novos formatos de publicação e de estilos de escrita. Mas não devem, de forma alguma, substituir a cobertura jornalística sobre ciência e sim complementá-la”
Concordo, e é bom lembrar que muitas vezes blogs científicos independentes corrigem erros que são divulgados pelo jornalismo formal. E blogs independentes gozam de uma liberdade para analisar aspectos sociais e políticos das notícias científicas que talvez não seja tão disponível ao jornalismo formal. Os blogs são uma complementação sim, mas complementação fundamental para uma comunicação científica eficiente.
Veja uma lista de diversos blogs científicos em nossa página de links.