
Foi anunciada, no dia 25 de abril desse ano (2007), a descoberta de mais dois planetas orbitando a estrela Gliese 581 (Gl 581), na constelação de Libra. Essa estrela não é visível a olho nu. As descobertas de planetas extra-solares têm se tornado cada vez mais comuns na Astronomia moderna, e já não são, em geral, notícia que atraia atenção de muita gente. Mas um dos planetas recém-descobertos em torno de Gl 581 é o que tem massa mais próxima à da Terra dentre todos os já descobertos até hoje. Além disso, situa-se dentro da zona de habitabilidade daquela estrela.
Gl 581 é uma estrela anã vermelha, e estrelas desse tipo são de especial interesse na procura de planetas extra-solares. A pequena massa de uma anã vermelha torna a detecção de planetas leves mais fácil que em estrelas mais massivas, e a zona de habitabilidade dessas estrelas situa-se próxima, até a 0,01 u.a1.
O sistema planetário de Gl 581 possui três planetas descobertos. O primeiro e mais próximo, chamado Gliese 581 b, descoberto em 2005, tem massa próxima à de Netuno e completa uma volta ao redor da estrela em 5.36 dias.
O segundo planeta em ordem de afastamento da estrela é o que mais nos chama a atenção nesse sistema, o Gliese 581 c. Sua órbita localiza-se dentro da zona de habitabilidade, uma região dentro da qual um planeta teria condições de abrigar água líquida. A massa de Gliese 581 c é a menor de todos os planetas extra-solares já descobertos até hoje (estamos em abril de 2007), calculada em 5,03 massas terrestres2, e seu raio é de cerca de 1,5 raio terrestre3. Isso faz com que Gliese 581 c seja o planeta mais semelhante à Terra já encontrado, e o mais promissor a abrigar vida como conhecemos na Terra. O terceiro planeta desse sistema está a 0,25 u.a. da estrela e sua massa é de 7,7 massas terrestres.
As técnicas atuais de detecção de planetas extra-solares nos permitem apenas conhecer, na maioria dos casos, planetas muito massivos e que estejam muito próximos de sua estrela. O planeta Gliese 581 c está bastante perto de sua estrela, como era de se esperar, mas devido a sua pouca massa, só pôde ser detectado porque Gl 581 é uma anã vermelha.
Perceba que o fato de um planeta estar na zona de habitabilidade não é uma garantia que ele possua água líquida, mas uma garantia que ele pode possuir água líquida. Um planeta na zona de habitabilidade com uma gravidade muito pequena não conseguiria manter a água em sua superfície por muito tempo, e a tendência seria ela se evaporar para o espaço, ao longo de sucessivos ciclos de evaporação e chuva.
E também uma gravidade capaz de reter a água no planeta não é garantia que a vida tenha se desenvolvido no planeta. Um atmosfera que provoque um efeito estufa muito exagerado, como acontece com nosso vizinho Vênus, é um fator que impossibilitaria a vida como conhecemos, mesmo com água.
Existe um outro detalhe nesse sistema que o torna notável. Gl 581 tem metalicidade menor que a do Sol (Fe/H = – 0,25), ao contrário da maioria das estrelas que abrigam planetas. Como dizem estudos de formação planetária, estrelas de pouca massa e baixa metalicidade dificilmente teriam planetas gigantes ao seu redor, mas poderiam facilmente ter planetas de pouca massa.
Ainda que não existam garantias de que Gliese 581 c seja um planeta habitado por seres vivos, é gratificante saber que nossas técnicas de detecção de planetas extra-solares já nos permitem encontrar planetas na zona de habitabilidade de suas estrelas.
Abaixo está uma tabela com alguns dados sobre os três planetas do sistema planetário de Gl 581.
|
Planeta |
Período de revolução (dias) |
Excentricidade da órbita |
Massa (massas terrestres) |
Distância máxima da estrela (u.a.) |
|
Gl 581 b |
5.3683 +/- 0.0003 |
0.02 +/- 0.01 |
15.7 |
0.041 |
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Gl 581 c |
12.932 +/- 0.007 |
0.16 +/- 0.07 |
5.03 |
0.073 |
|
Gl 581 d |
83.6 +/- 0.7 |
0.20 +/- 0.10 |
7.7 |
0.25 |
Obtida em http://obswww.unige.ch/exoplanets/gl581.html
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1 u.a. é a abreviatura de unidade astronômica, unidade de medida que equivale à distância entre a Terra e o Sol, cerca de 150 milhões de km.
2 Uma massa da Terra: 5,98 x 1024 kg.
3 Raio da Terra: 6.378 km.
Uma versão resumida desse texto foi publicada em junho de 2007 no folder e site da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro



Parabéns pelo artigo. Desmistifica e é didático.
Obrigado, Silvio! Grande Abraço.
Obrigado pelo Blog interessante.
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Este planeta está muitopróximo do seu sol. A estrela deve emanar muita radiação (principalmente no espectro infravermelho), portanto´será muito difícil encontrar vida lá tal como a conhecemos. Porém somente com a observação direta, (daqui a muuuuito tempo!!) isto será possível.
Boa observação, Nelson (sem trocadilhos astronômicos 😀 ). Todos os planetas que conseguimos detectar até agora, sem observação direta, são muito próximos à estrela, e concordo com você que será difícil encontrar vida como conhecemos.