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O Leviatã de Parsonstown e o Novo Catálogo Geral

Lawrence Parsons ,4 <sup>o</sup> Conde de Rosse

Faria aniversário de 158 anos no dia 13 de fevereiro de 2010 Johan Ludvig Emil Dreyer. Muitos aficionados por Astronomia podem até nunca ter ouvido falar desse nome, mas com certeza já ouviram falar em um fruto de seu trabalho como astrônomo do Conde de Rosse, no Castelo Birr, em Parsonstown, na Irlanda.

Nascido em Copenhague, Dinamarca, em 1852, Dreyer mudou-se para a Irlanda em 1874, para ser Astrônomo de Lawrence Parsons, o quarto conde de Rosse. Seu pai, o terceiro conde de Rosse, William Parsons, construiu diversos telescópios refletores, sempre buscando fazer instrumentos com aberturas cada vez maiores. Chegou a um de 72 polegadas. Foi o maior do mundo até a construção do telescópio Hooker, no Observatório de Mount Wilson, em 1917. O instrumento construído por William Parsons ficou conhecido como o Leviatã de Parsonstown.

O Leviatã de Parsonstown
O Leviatã de Parsonstown

Quanto maior é a abertura de um telescópio, maior é a sua capacidade de capturar luz. Telescópios de grande abertura são mais indicados para observar objetos pouco luminosos, como nebulosas, galáxias ou aglomerados estelares. Devido à grande abertura do Leviatã de Parsonstown, com ele foi possível observar objetos que nunca tinham sido observados antes, especialmente nebulosas. Também com ele se observou pela primeira vez a estrutura espiral em certas galáxias, numa época em que nem se tinha uma comprovação científica de que o Universo é formado por conjuntos de galáxias. O termo “galáxia” não era utilizado, e galáxias e nebulosas eram todas chamadas de nebulosas.

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Castelo Birr

Foram observadas, com o Leviatã, diversas nebulosas conhecidas e várias outras puderam ser descobertas. Quando Dreyer foi trabalhar em Parsonstown, havia um catálogo de referência chamado Catálogo de Nebulosas e Aglomerados de Estrelas, que ficou conhecido como GC – do inglês, General Catalog – criado por Sir John Herschel e publicado em 1864. Nele, estavam listados diversos aglomerados e nebulosas conhecidos na época com suas respectivas localizações na esfera celeste. O GC trazia cerca de 5000 nebulosas e aglomerados. (mais tarde, uma edição complementar seria editada trazendo não mais nebulosas e aglomerados, mas 10300 sistema múltiplos de estrelas). Antes das nebulosas do GC havia também o catálogo publicado pelo caçador de cometas Charles Messier, com 103 objetos.

John Louis Emil Dreyer
John Louis Emil Dreyer

Poucos anos após a publicação do catálogo de Herschel, já havia muitas novas nebulosas descobertas por diversas pessoas ao redor do mundo. Havia também muitas listas de objetos recém-descobertos e era complicado verificar se um novo objeto era de fato novo, ou se já havia sido observado por alguém. Na tentativa de minimizar esse problema, em 1878, Dreyer publicou um suplemento ao GC, com cerca de 1000 novos objetos. Ele sugeriu, ainda, um outro suplemento em 1886 e a Sociedade Astronômica Real o convidou a compilar um novo catálogo geral. E em 1888, Dreyer publica seu Novo Catálogo Geral de Nebulosas e Aglomerados de Estrelas, que ficou mais conhecido simplesmente por NGC – do inglês, New General Catalogue – trazendo cerca de 8000 nebulosas e aglomerados estelares, lembrando que algumas dessas nebulosas são, hoje, galáxias. O NGC seria ainda expandido com o lançamento dos Index Catalogues I e II, que traria mais cerca de 5000 novos objetos.

Assim, nebulosas e galáxias, conhecidas hoje, possuem um código NGC ou IC. A Nebulosa de Órion é também NGC 1976; a galáxia de Andrômeda é NGC 224. Na constelação de Monoceros, o unicórnio, temos a nebulosa IC 446.

O Leviatã de Parsonstown foi demolido em 1908, e a antiga Parsonstown não leva mais em seu nome a lembrança da família Parsons. Agora é apenas Birr. Mas o catálogo de Dreyer é, ainda hoje, a grande referência de quem quer encontrar galáxias, aglomerados e nebulosas no céu.

Leia também Quem Elaborou o Catálogo NGC?

Por Leandro L S Guedes

Astrônomo, Diretor de Astronomia da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro, Msc., Dr., Astrofísica Extragaláctica, História e Filosofia da Ciência.