Dados da sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) – um satélite artificial que orbita o planeta vermelho desde 2006 – ofereceram o mais forte indício de que existe água corrente fluindo em algumas regiões na superfície de Marte: a presença de sais minerais hidratados. Sais diminuem a temperatura em que a água congela, e permitiria a presença de água liquida nas baixas temperaturas marcianas. E a hidratação, que significa presença de molécula de água na composição do sal, deve ter sido causada pela própria água líquida nas regiões em que foram encontrados.
Já sabemos que certamente Marte teve muita água fluindo em sua superfície no passado. Mas a hipótese de água líquida corrente nos dias de hoje havia sido levantada para explicar a formação de raias escuras em terrenos inclinados que parecem fluir nas estações mais quentes e desaparecer nas estações mais frias.

Um dos autores do nove autores do artigo que analisa os dados, Lujendra Ojha, do Georgia Institute of Technology (Georgia Tech), em Atlanta, Estados Unidos, disse: “Encontramos esses sais hidratados apenas quando os aspectos sazonais são mais evidentes, o que sugere que as próprias raias escuras ou um processo que as forme é a fonte da hidratação. De qualquer maneira, a detecção de sais hidratados nesses declives significa que água tem um papel vital na formação dessas listras”.
Ojha lembrou ainda que “quando a maioria das pessoas fala de água em Marte, está normalmente falando sobre água num tempo remoto ou em água congelada. Agora sabemos que existe mais nessa história”.
Quem mora ou já teve contato com cidades onde neva muito, certamente já reparou que uma medida comum é espalhar sal grosso na calçada de pedestres e nas ruas onde passam carros. O sal diminui a temperatura de congelamento, fazendo com que a neve derreta. É esse o processo que nos faz crer que os sais encontrados em Marte podem manter água líquida corrente, numa região cuja temperatura onde, normalmente, a água pura congelaria.
Os minerais hidratados encontrados são chamados percloratos, sais derivados de ácido perclórico (HClO4). Normalmente, percloratos referem-se a moléculas que possuem o ânion ClO4– em sua composição. Os sais encontrados em Marte provavelmente são uma mistura de perclorato de magnésio (Mg(ClO4)2), clorato de magnésio (Mg(ClO3)2 ) e perclorato de sódio (NaClO4).
É interessante repararmos o caminho dessa descoberta: não foi feita a detecção direta de água corrente. Água corrente era uma hipótese para explicar determinada característica geológica sazonal observada no planeta (as raias escuras que mudavam de tamanho); encontrou-se indícios da presença de água (além das próprias raias escuras, a hidratação dos sais) associado a uma condição que permite a presença dessa água em forma líquida (o sal, que diminui o ponto de congelamento da água). Juntando tudo, chegamos à conclusão de que as raias escuras, que são mais intensas nas épocas quentes e menos intensas nas épocas frias, é produzida por água corrente que hidratou sais minerais da superfície e que mantêm-se líquida devido a esses sais.
Certamente não dá para se pensar em navegar nessa pouca água corrente descoberta em Marte mas podemos voltar a ver a possibilidade da existência de vida no planeta com mais esperança. Marcianos, se existirem, certamente não são verdes com anteninhas, mas podem ser microscópicos, como bactérias.
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Artigo Original na Nature Geoscience (em inglês): http://www.nature.com/ngeo/journal/vaop/ncurrent/full/ngeo2546.html
https://www.nasa.gov/press-release/nasa-confirms-evidence-that-liquid-water-flows-on-today-s-mars